POSTAGENS/ ARTIGOS ALEATÓRIOS

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

KIOSQUE DAS LENDAS E CONTOS








O DUENDE, A FADA E A SEREIA
Um dia, os elementares da natureza, fizeram uma reunião: Decidiriam em assembleia, quem era o mais importante no Reino Encantado, para o gosto das crianças e o equilíbrio do mundo. Cada elementar da Natureza tem seu papel importante, seja ele da terra, mar ou ar.
Mas todos se julgavam os melhores. Para esse impasse, então foi realizada a tal reunião.
Começando a assembleia, o Duende Chefe (que era o mais velho), bateu o martelinho e declarou aberta a sessão. Vieram seres encantados de todos os tipo para essa votação: Gnomos, elfos, ondinas, ninfas, e outros...
Havia muito rebuliço de vozes e o Duende Chefe, pediu silêncio. Disse então, que o representante das fadas, o elfo Vladimir iria falar.
O elfo discursou sobre a importância das fadas, fosse para as crianças, fosse para o equilíbrio da natureza, desfiando uma série de factos para demonstrar o que dizia.
Uma grande tela, como de cinema, pairava no ar e ele apontava e explicava...
Acabada a apresentação, foi a vez dos duendes. O duende Olavo foi chamado para as suas considerações. Ele falou, falou, e depois de alguns minutos, foi vaiado. Começou um tumulto, e o Duende Chefe bateu o martelinho mais uma vez.
Agora era a vez da ondina Susana. Falaria em favor das suas superiores, as sereias. Mostrou que o canto das sereias embalava o sono dos marinheiros cansados, que sua beleza era um bálsamo para os olhos..
Expostas as considerações, o júri reuniu-se. Depois de muita conversa, acharam melhor decidir a questão por desafios.
O primeiro desafio seria: Entrar em um caldeirão no meio da floresta que estaria cheio de óleo bem quente. Quem ficasse mais tempo, seria o vencedor. Os juízes foram escolhidos: um centauro, um ogro e um mago ancião muito respeitado pelo seu alto padrão de justiça.
O primeiro a entrar no caldeirão foi o duende, seguido da fada e por último a sereia. O duende gritou de dor, a fada chorou, e a sereia fritou o seu rabo de peixe!
Não houve vencedor. Todos saíram do caldeirão. Tal prova era dolorosa demais! Os juízes deram empate. Determinaram assim a segunda tarefa: Quem trouxesse a bela flor que crescia em uma pedra, sem danificá-la, seria o vencedor. Só que essa flor era devidamente protegida pelo gigante Tomásio. Passar por ele, seria sim o desafio! Partiram um duende, uma fada e outra sereia carregada em um tonel cheio de água, para o monte onde a flor se encontrava.
O duende tentou distrair o gigante fazendo cócegas no dedão do pé. A fada voou até aos olhos do gigante, e com uma flor cheia de espinhos furou os seus olhos. A sereia pulou para fora do tonel e pegou a flor antes que o gigante percebesse, pois ele estava agoniado coçando os olhos. Usando de esperteza a sereia ganhou o desafio. Mas, os juízes decidiram que foi empate novamente, já que todos trabalharam em grupo.
O terceiro desafio foi imposto: Se algum deles conseguissem fazer uma criança triste e pobre, sorrir novamente e ser feliz, venceria a prova.
Ali estava uma peleja que todos os competidores dentro de si, achavam que ganhariam! Seguiram em frente à procura de alguma criança que precisasse de ajuda nas condições impostas pelos jurados.
O duende achou um menino, que chorava por se ter perdido dos seus pais. O duende aproximou-se e disse:
_ O que houve menino? Chora por quê?
O menino contou a sua história, e o duende propôs contar algumas piadas do seu repertório, para que ele se alegrasse. O menino disse que não adiantaria, só ficaria feliz de novo, quando encontrasse os seus pais.
E o duende decidiu então, que ajudaria a procurar pelos pais do menino. Foi aí que teve a ideia de pedir à sereia Ornela, que cantasse bem alto para que os pais do menino, que deveriam estar procurando por ele o pudessem ouvir. É sabido que o canto das sereias atrai as pessoas para onde elas estejam. A fada Coralina também ajudaria sobrevoando a floresta para ver se avistava os pais do menino, guiando-os assim, até ele.
Tudo acertado, finalmente os pais do menino, o acharam, com a ajuda dos elementares. Como eram muito pobres, cada um resolveu dar um presente, para ajudá-los: O duende deu um pote de ouro. A fadinha Coralina, deu uma casinha nova. A sereia Ornela, tirou de seus belíssimos cabelos, um diadema cravejado de pedras preciosas.
A família ficou muito feliz com esses presentes. Resolveram deixar também algo, como prova de gratidão: A única ave que possuíam, presa em uma gaiola: Um belo canário. Os elementares da natureza, como não poderiam aceitar uma ave presa, deram a liberdade ao canário abrindo a gaiola!
Os juízes, que tudo viram escondidos, resolveram dar o empate mais uma vez. Todos voltaram para a reunião no Reino Encantado. Quando chegaram, foram recebidos com muitas palmas.
O Duende Chefe que presidia a assembleia, bateu o martelinho e declarou:
Senhoras e senhores, seres da Natureza, declaro por unanimidade que todos os competidores envolvidos são de igual importância. Sendo assim, não há vencedores. Todos nós fazemos parte de um ciclo vital e harmonioso. Sem a colaboração de cada um de nós, não haveria equilíbrio!
Somos elementares e continuaremos com nosso propósito: O bem de toda criatura na face da Terra! Portanto, declaro encerrada esta assembleia!
E assim, no Reino Encantado, não mais se falou sobre competições, e sim na cumplicidade entre eles para o bem do Planeta Terra.
ACERCA DA AUTORA:
Conto extraído do seu primeiro livroContos que eu te conto”.

Maria de Fátima Abreu de Oliveira. Escritora Brasileira, natural do Rio de Janeiro, escritora de contos, poesias, artigos para Jornais, entre outras actividades relacionadas com a literatura.
Nota do “Fonte de Luz”

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LENDA DO ALECRIM  


Existe uma graciosa lenda a respeito do alecrim:
Quando Maria fugiu para o Egito, levando no colo o menino Jesus, as flores do caminho iam se abrindo à medida que a sagrada família passava por elas. 
 
O lilás ergueu seus galhos orgulhosos e emplumados, o lírio abriu seu cálice.
O alecrim, sem pétalas nem beleza, entristeceu lamentando não poder agradar o menino. 

Cansada, Maria parou à beira do Rio e, enquanto a criança dormia, lavou suas roupinhas. 

Em seguida, olhou a seu redor, procurando um lugar para estendê-las.
'O lírio quebrará sob o peso, e o lilás é alto demais'. 
 
Colocou-as então sobre o alecrim e ele suspirou de alegria, agradeceu de coração a nova oportunidade e as sustentou ao Sol durante toda a manhã. 
 
"Obrigada, gentil alecrim! disse Maria. 
Daqui por diante, ostentarás flores azuis para recordarem o manto azul que estou usando. 

E não apenas flores te dou em agradecimento, mas todos os galhos que sustentaram as roupas do pequeno Jesus, serão aromáticos.
Eu abençoo folha, caule e flor, que a partir deste instante terão aroma de santidade e emanarão alegria."  

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O monge e o escorpião

Um monge e os seus discípulos iam por uma estrada e, quando passavam sobre uma ponte, viram um escorpião arrastado pela água. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e apanhou o animal com a mão. Quando o trazia para fora, o escorpião picou-o e, devido à dor, o monge deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem apanhou um ramo de uma árvore e voltando a entrar na água, recolheu o escorpião de novo e salvou-o. De novo o monge juntou-se aos discípulos que se encontravam na estrada a assistir à cena perplexos e pesarosos.
"Mestre, deve estar a doer-lhe muito! Porque salvou esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não merecia a sua compaixão!"
O monge ouviu tranquilamente os comentários e respondeu:
"Ele agiu de acordo com a sua natureza, e eu de acordo com a minha."
Este conto faz-nos reflectir sobre a forma de melhor compreendermos e aceitarmos as pessoas com que nos relacionamos. Não podemos e nem temos o direito de mudar o outro, mas podemos melhorar as nossas próprias reacções e atitudes, sabendo que cada um dá o que tem e o que pode.
Devemos fazer a nossa parte com muito amor e respeito pelo próximo.
Autor desconhecido
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A Borboleta


Certo dia uma pequena abertura apareceu num casulo. Um homem sentou-se e observou a borboleta durante várias horas, vendo como ela se esforçava para fazer com que o seu pequeno corpo passasse através daquela fenda. Num determinado momento pareceu que ela tinha parado de fazer qualquer progresso. Parecia que tinha ido o mais longe que podia e não conseguia fazer mais nada para sair do casulo.
Então, o homem decidiu ajudar a borboleta; pegou numa tesoura e cortou o que restava do casulo. A borboleta saiu facilmente, mas o seu corpo estava murcho, era pequeno e tinha as asas amassadas. O homem continuou a observar a borboleta porque esperava que, em qualquer momento, as asas dela se abririam e esticariam para serem capazes de voar, de suportar o corpo.
Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto de sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. O que o homem, na sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia, era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura, era o modo com que Deus fazia que o fluído do corpo da borboleta fosse para as suas asas, de modo que ela estivesse pronta para voar uma vez que estivesse livre do casulo.
Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos na nossa vida. Se Deus nos permitisse passar através de nossas vidas sem quaisquer obstáculos, ele nos deixaria aleijados. Nós não seríamos tão fortes como poderíamos ter sido e nunca poderíamos voar.

Eu pedi Força................................... e Deus me deu dificuldades para me fazer forte.
Eu pedi Sabedoria............................. e Deus me deu problemas para resolver.
Eu pedi Prosperidade........................ e Deus me deu cérebro e músculos para trabalhar.
Eu pedi Coragem.............................. e Deus me deu perigos para superar.
Eu pedi Amor .................................. e Deus me deu pessoas com problemas para ajudar.
Eu pedi Favores................................ e Deus me deu oportunidades.
Eu não recebi nada do que pedi ........ mas eu recebi tudo o que precisava.
Autor desconhecido
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LENDA BRASILEIRA
O Negrinho do Pastoreio É uma lenda meio africana meio cristã. Muito contada no final do século passado pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. É muito popular no sul do Brasil.
Nos tempos da escravidão, havia um estancieiro malvado com negros e peões. Num dia de Inverno, fazia frio de rachar e o fazendeiro mandou que um menino negro de quatorze anos fosse pastorear cavalos e potros recém-comprados. No final do tarde, quando o menino voltou, o estancieiro disse que faltava um cavalo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no menino que ele ficou sangrando. ‘‘Você vai me dar conta do baio, ou verá o que acontece", disse o malvado patrão. Aflito, ele foi à procura do animal. Em pouco tempo, achou ele pastando. Laçou-o, mas a corda se partiu e o cavalo fugiu de novo.

Na volta à estância, o patrão, ainda mais irritado, espancou o garoto e o amarrou, nu, sobre um formigueiro. No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua vítima, tomou um susto. O menino estava lá, mas de pé, com a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas. Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, e mais adiante o baio e os outros cavalos. O estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu conduzindo a tropilha.
Origem: Fim do Século XIX, Rio Grande do Sul.
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A lenda do coração materno












Mostra-nos esta famosa lenda árabe a que extremos pode atingir o amor materno. Encontramos a figura de um filho alucinado que se arrepende de um crime infame que praticou contar a própria mãe

Terminada a prece de Mogreb e confortados com o sublime pensamento de Deus, voltamos, ao padejar da tarde, para o interior da tenda. Ao cruzar a porta, o homem do turbante parou um instante, sorriu para mim, bateu de leve com a mão na testa e exclamou com certo alvoroço:
- Lembrei-me, agora, meu amigo: Mu-á-ssem! Era assim que se chamava a tal cidade. Era esse o nome que me faltava!
- Mu-á-ssem!
Revesti-me de certo ânimo e arrisquei, cautelosamente, como quem pisa o tapete da incerteza:
- Nada vos impede, agora, á ilustre cheique! de nos contar a história famosa que os árabes, nossos irmãos, intitulam A Lenda do Coração Materno. Estamos todos ansiosos por ouvi-la.
- Sim, sim - aquiesceu o cheique com acentuada bonomia. -Farei, com o maior prazer, a narrativa da lenda que vos interessa.

Entrou, abancou-se no estrado e, voltando-se para o poeta Assad Bittar, dono da tenda, interpelou-o num tom afetado de quem declama:
- Repara, á Caid el-Markhan como vai a claridade pelo deserto e pelo céu. O dia, bem sei, está declinando, O Sol já levou para o oásis recurvo do horizonte a sua caravana infinita de luz. Dize-me: ainda se distingue um fio preto de um fio branco? O que achas, ó poeta?

Assad Bittar enrolou o seu belo rosário de coralinas, ergueu o rosto e, repuxando um dos panos da tenda, olhou para a linha sombria das tamareiras. Fez, a seguir, um gesto vago com a mão esquerda e informou:
- Asseguro-vos, ó preclaríssimo cheique ei -m edhaIt , que nAo émais possível, mesmo com o olhar de lince, dentro da réstia da luz que nos envolve, distinguir-se um fio preto de um fio branco!
Tive a impressão de que as frases de Assad Bittar surgiam com a cadéncia suave de uma deliciosa casida.7
Fez-se silêncio na tenda. A noite fria e veludosa caía triste, tristemente, sobre o deserto. O céu repintava-se de mil e unia estrelas. Os beduínos, que vigiavam os nossos rebanhos, acenderam suas pesadas lanternas; muito ao longe ouvia-se o latir alegre dos cães e o uivar lúgubre de um chacal faminto.

O cheique do turbante verde (chefe dos contadores de histórias) nâo se fez de rogado. Ajeitou a manga da túnica, passou o polegar direito pelo queixo, soltou dois pigarros e, depois de ter proferidoo clássico "Em nome de Allah, Clemente e Misericordioso", assim começou:
- Aquele que desce as encostas agrestes de Bení-Hakaan,8 seguindo a trilha esburacada e incerta das caravanas, encontra um lugarejo, outrora verdejante e alegre, que os árabes denominaram Muássem.
Vivia em Muássem (já lá se vão muitos e muitos anos) uma jovem que se chamava Leilah,0 filha de Zeraik, vendedor de incenso. Direi, ainda, que Leilah era extremamente formosa. (Louvado seja Allah que criou a mulher para encanto de nossa vida!). Seus olhos eram negros e babilônicos; suas faces morenas tinham a maciez de uma pétala de rosa ao abrir da manhã. Leilah, ao sorrir, lembrava uma tâmara muito doce, mais doce, talvez, que as tâmaras eI-hamyra, de Saná". Assad Bittar diria, com certeza: "Ao admirar a beleza de Leilah convenci-me de que Deus, Deus também é poeta!"

Nas tardes de al-junurat, antes da quarta prece, Leilah deixava Muássem, atravessava o ToI, e ia (em companhia de Suraia, sua tia mais velha) até o oásis de Ababi/, onde havia boas fontes, vários bazares com amplo sortimento de sensela, ounah e essências raras.
Foi numa dessas excursões a Ababil que Leilah conheceu o jovem Halim ben-Muhib ben-Dhaoud, El Hadj chamír'7das caravanas que percorriam o Iêmen e levavam peregrinos até à Cidade Santa (Que Allah a glorifique para todos os séculos!)
Cabe-nos contar, ó irmão dos árabes!, que a filha de Zeraik apaixonou-se pelo condutor de caravanas. A sua paixão desconhecia 4 limites até no ilimitado. Não foi menor o amor que Leilah fez nascer no coração de Halim.

Graças à complacência e tolerância da velha Suraia, repetiramse amiudadas vezes os encontros dos dois namorados. Irocaram juras de amor. E este tinha a violência do Ouahed ao varrer, sibilante, os areais do Roba-el-KaIi. Lembram-se? Esse vento tudo parece arrasar.
I-Ialim ben-Muhib reafirmou o seu plano. Iria até Meca levar mais uma caravana de trezentos peregrinos, sendo muitos do Egito e alguns até do Sudão. Compromissos muitos sérios, que datavam do ano anterior, o obrigavam a partir. O seu casamento, com Leilah, sua noiva, ficaria marcado para a primeira semana após seu regresso da Cidade Santa.

Aquela viagem de Halim encheu de inquietação o coração de Leilah. Muitos meses ficaria afastada de seu namorado; ele seria obrigado a percorrer o Fialhi e o FhaUatt22 visitar acampamentos, enfrentar bandoleiros e arriscar a vida. E a possibilidade de outros perigos obscurecia o pensamento de Leilah: o seu noivo, durante a longa jornada, percorreria três ou quatro cidades, populosas, cheias de vida e de alegria. Num desses centros, poderia, o intrépido chamír, encontrar uma jovem de formosura estranha, irresistível, que o seduzisse, que o prendesse para sempre. E ela seria roubada. Perderia o amor de Halim! Desesperava-se Leilah ao imaginar que semelhante desgraça pudesse ocorrer no circulo de sua vida.
O que fazer?

Fez sentir a sua tia Suraia as angústias que a afligiam. Disse-lhe Suraia:
- Em Ababil, para além das ruínas, vive agora um feiticeiro prodigioso. O seu nome é Khabil ben-Rahab. Consta que veio de Loheia, no Tehama. Já ouvi dizer que tem feito verdadeiros milagres. Quem sabe se desse feiticeiro Não poderás obter uma baraki-' ou um remédio capaz de prender, para sempre, o teu namorado? Inch' Allah! Quem sabe?

Aceitou Leilah o alvitre de sua tia. Consultaria o velho feiticeirode Loheia, ouviria, talvez, outros encantadores e adivinhos. Esses homens, malabaristas do mistério, ouvem os djins forjam filtros secretos, conhecem talismãs poderosos com os quais é fácil acorrentar um jovem, seja um prfncipe, um valente chamir ou um mísero caravaneiro.

Para além de Ababil, entre as ruínas de uma antiga fortaleza desmantelada, erguera o velho Khabil ben-Rahab, o bruxo, a sua tenda de mágico e curandeiro.
Leilah, sempre guiada pela leviana Suraia, foi recebida pelo mandigueiro! (Queira Allah esclarecer os que vivem no erro e no pecado!)

Qualquer visitante ficaria impressionado com as horripilantes figuras e estranhos objetos que enchiam a tenda de Khabil: caveiras, corujas empalhadas, ossos de avestruz, peles de cobras, dentes de elefantes, ervas venenosas, velhas clinitarras, colares, escudos e objetos de todas as formas. O falso vidente (e a sua voz era vincada de hipocrisia) inquinu:
- O que desejas de mim, formosa menina? Nada mais sou do que um servo entre os teus servos!

Leilah ergueu o véu e circunvagou os olhos pelo interior da tenda. Sentia-se assustada, apreensiva. Tudo ali parecia encantaçâo e esconjuro. Surala, fraca e supersticiosa, não se animou a entrar e permaneceu fora, na sombra da velha muralha. Khabil, o feiticeiro, puxou por um pequeno tamborete e disse à jovem:
- Senta-te aqui, minha filha! senta-te. Fala. Leio a afliçáo em teus olhos. Como poderei ajudar-te?

Cheia de ilusões, a ingênua menina, em voz branda, quase sumida, contou ao infame impostor todo o seu romance de amor. Falou, entre suspiros, da intranqúilidade em que vivia, pois o seu noivo ia viajar peles caminhos de Allah. Demoraria em muitas cidades. Seria assediado por muitas mulheres. E as flechas da seduçáo cairiam sobre ele. Como poderia ela obter um meio certo, seguro, infalível de prender para sempre o amor de seu amado?
- E qual é o nome desse jovem tâo venturoso? - indagou o velho intrujâo.
-Chama-se Halim, é o chanilrda caravana!
- Ah! Ah! Ah! riu o miserável, esfregando as mãos. - Ah! Ah!Ah!
Aquela intempestiva casquinada de riso assustou Leilah. Seu corpo tremia; seu rosto cobriu-se como véu da palidez.

Acudiu o hediondo bruxo, com falsas palavras e desatada hipocrisia, tentando tranqúilizá-la:
- Não te assustes, minha filha, nâo te assustes! Estou rindo, menina, por tua causa; infundados sâo os teus ciúmes e os teus receios. Conheço o teu namorado. Revelo o seu nome por extenso: é o valente chamir El-Hadj Halimben-Muhib ben-flhaoud. E meu amigo. Tudo terminará bem.

Cada palavra do sacripanta trazia o veneno da mentira. O seu envilecido coração enchera-se de ódio ao ouvir o nome de Halim, que ele sabia ser filho de lasmina. Lembrou-se do tempo em que era moço, quando vivia em Loheia. Conhecera a delicada lasmina, filha de um tecelão. Enamorou-se loucamente dela. Procurou-a. Pediu-a três vezes em casamento. Implorou. Humilhou-se. Mas lasmina três vezes o repeliu, para, mais tarde, casar-se com Huhib ben-Dahoud, o peroleiro. E o miserável, ao relembrar fatos perdidos no passado, sentia-se invadido por ondas de furor. Mas chegara, afinal, o momento da vingança, que ele, o noivo repudiado, espumante de cólera, durante 32 anos, acalentara em seu denegrido coraçâo. Huhib ben-Dahoud, o peroleiro, já havia morrido. Mas Iasrnina vivia. E, agora, a namorada de Halim, o filho dileto de Iasmina, vinha procurálo. "Pela desgraça que pesou na minha vida - refletia o sacripanta -vais ter, agora, a minha vingança escrita em sangue na areia clara do teu destino!'

Dominou-se, afinal; fingiu que meditava: com a ponta do dedo riscou figuras cabalfsticas no chão; levantou-se e tomando em uma das mãos cinco pedrinhas de várias cores (depois de fazer com que Leilah as beijasse uma a uma) atirou-as ao acaso, sobre as figuras por ele traçadas. Permaneceu, ainda, calado durante algum tempo, refletindo, fingindo que decifrava um sortilégio qualquer. Era glacial a placidez de seu semblante. E disse, afinal, aflautando a voz, com ar compungido:
- Infelizmente, menina, as pedras do teu Destino, atiradas por mim sobre o signo de Salomão, revelaram algo muito grave. Deploro ver-me obrigado a dizer-te a verdade. A sombra de terrível desgraça paira sobre tua cabeça. Vais perder o teu noivo!
- Vou perdê-lo?
- Sim, vais perdê-lo! - confirmou o intrujão com gravidade. -Ao passar com seus caravaneiros por Medina, ele ficará enfeitiçado por uma jovem chamada Jamile e esquecerá, para sempre, a sua noiva de Muássem.

Fez, neste ponto, uma pausa muito rápida e falou novamente:
- Há, porém, um meio de se evitar essa desgraça.
- O que deverei fazer? - indagou a jovem com a voz abafada e com um leve tremor nos lábios. Respondeu o embusteiro, iluminado por satânico pensamento:
- Estás vendo a pedrinha vermelha, junto á terceira ponta desta estrela? A tua felicidade é indicada claramente por essa pedrinha. Cumpre que exijas de teu namorado (antes que ele parta para Meca) o seguinte: Halim deverá trazer-te o coraçâo de sua própria Mãe!
-O coração de sua Mãe! - repetiu Leilah horrorizada com a revelação do impostor. - Mas isso é um crime. Isso é uma infâmia!

Os olhos negros de Leilah apareciam rorejados de lágrimas.
O bruxo procurou convencer a jovem:
- Não há crime, nem infâmia, quando está em jogo a felicidade de uma noiva apaixonada! tasmina, a mãe de Halim, já se arrasta velhinha e poucos anos permanecerá nesta vida. E tu, minha filha, noiva dileta, tens um futuro imenso diante de ti. E o que chamamos, dentro da magia, um ato sacrificatório. E não vejo, na Linha Sagrada das Cinco Pedras, outra solução para o teu caso. Ou cumpres o que disse, ou perderás, para sempre, o amor de Halim!

E notando que a jovem o fitava estarrecida, olhos muito aberros, cheios de interrogaçôes, o cínico feiticeiro continuou, dando àVOZ, cava e misteriosa, uma inflexão carinhosa:
- Leva este frasco. Contém um filtro milagroso por mim preparado. Dá ao teu noivo algumas gotas desse filtro. E ele ficará meigo, terno, cada vez mais apaixonado por ti, e procurará cumprir Lodos os teus caprichos.
E depositou na mão de Leilah um ftasco escuro que tinha suco de Erva Ma/dita, a erva que obscurece a razão, causa vertigem e que leva o homem aos extremos da loucura.

Tudo se passou de acordo com o plano hediondo imaginado pelo perverso makrouniembusteiro. (Que Cheitá, o Maldito, o castigue!). Leilah fez com que o noivo ingerisse o suco da Erva Maldita e, quando Halim já se achava dominado pela ação da peçonha, disselhe arrebatada:
Queres que eú te ame para o resto da vida? Queres que eu consagre toda a minha existência a ti, somente a ti? Traze-me o coraçâo de tua Mãe!
- Mas, querida... - balbuciou, alucinado, em tom de súplica.
- Que idéia é essa? Que estás pedindo? O coração de minha Mãe?
- Sim - confirmou Leilab em tom rompante - quero o coraçào de tua Mãe!

E impeliu-o suavemente para a estrada. Ela bem sabia que a bondosa Jasmina, mãe de Halim, encontrava-se num oásis próximo, na casa do ben-Dahoud.
O jovem Halim, sob a ação da Erva Maldita, praticou o crime abominável. Arrancou com o punhal o coração de sua Mãe e, tomando-o na mão, partiu a correr pela estrada.

Estranho impulso forçava-o a voltar, o mais depressa possível, para a casa de Leilah, sua noiva. Lá chegando ele diria com sobrancena:
- Aqui está, querida. Pediste o coração de minha Mãe? Ei-lo vivo, sangrando!
O dia vinha nascendo. Os primeiros clarões do Sol iluminavam, ao longe, as tamareiras de Muássem.
E Halim, quando entrou pela estrada que contornava o Tol, levando na mão esquerda o coração materno, tão desorientado se achava que tropeçou nos pedregulhos e caiu.

A queda foi violenta. Halim ergueu-se com dificuldade, gemendo, e levou a mão ao joelho em sangue. Sentia dor intensa pelo corpo.
Ouviu, então, bem perto, uma voz muito meiga, terna, que o interpelava com extrema solicitude:
- Estás ferido, meu filho?
Tomado de verdadeiro pavor, o matricida olhou alucinado para a sua mão, para a sua mão esquerda. Ele bem percebera. A voz viera dali, viera do coração! Do coração de sua mãe!
Aquelas palavras de desvelo, de ternura, foram palavras de sua Mãe, daquela Mãe dedicada, que mesmo depois de apunhala, de mutilada, ainda se interessava, vigilante, por ele, ainda sofria por ele...
- Estás ferido, meu filho?

O veneno da Erva Maldita, naquele instante, deixou de atuar sobre o seu cérebro. Halim caiu na triste realidade e percebeu a extensão infinita do crime ignominioso que cometera. Assassinara sua Mãe, a sua maior amiga, o maior amor de sua vida, para atender a um capricho louco de sua namorada! Ele era um infame; um celerado; um facínora perverso!
Levou aos lábios o coração materno, beijou-o levemente e murmurou:
- Perdoa, Mãe querida! Perdoa o teu filho! Teu desventurado filho estava louco, sob a ação de um veneno, embrutecido pela paixâo, e não sabia o que fazia! Perdoa, Mãe querida

FONTE: MALBA TAHAN: CONTOS E LENDAS ORIENTAIS
******************************************************************************************************** A                            LENDA DA NOITE



A Lenda da Noite Quando a terra era muito jovem a noite e os animais não existiam. Havia somente árvores, plantas e pessoas. Nessa época, o sol brilhava muito forte. As pessoas estavam sempre cansadas porque não podiam dormir bem. As árvores eram murchas devido ao forte calor Somente a Cobra Grande que era uma bruxa podia fazer a noite aparecer. Ela era uma cobra muito grande que vivia perto do rio.
Guardava a noite no fundo do rio, dentro de um coco. A cobra gostava de ver as pessoas cansadas e sonolentas. Os índios imploravam para que ela libertasse a noite, mas era inútil. Um dia, a filha da cobra se casou. Como sua mãe, a bela índia não precisava da noite para descansar. Mas seu marido e as outras pessoas da aldeia viviam cansadas. Ela não gostava de ver este sofrimento. Então disse para seu marido que ela iria pedir a noite para sua mãe. A mãe nunca recusava seus pedidos. O marido da filha da cobra tinha três fiéis empregados. Ele os enviou para que fossem pegar a noite com a cobra. Imediatamente os três índios pegaram uma canoa e foram encontrar a Cobra Grande. Embora os três homens estivessem muito estafados, eles remavam velozmente. Quando as árvores viram a cena, perguntaram onde os índios estavam indo com tanta pressa. Quando as árvores souberam que iriam buscar a noite, começaram a dançar e a gritar de alegria. Os três empregados chegaram ao lugar onde a cobra vivia. Contaram a ela porque estavam ali. Ela não gostou da ideia de entregar a noite, mas a cobra nunca negava um pedido da filha. Outra versão: No começo do mundo só havia o dia. A noite estava adormecida nas profundezas do rio com Boiúna, cobra grande que era senhora do rio. A filha de Boiúna, uma bela, tinha se casado com um rapaz de um vilarejo nas margens do rio. Seu marido, um jovem muito bonito, não entendia porque ela não queria dormir com ele. A filha de Boiúna respondia sempre: - É porque ainda não é noite. - Mas não existe noite. Somente dia! - Ele respondia. Até que um dia a moça disse-lhe para buscar a noite na casa de sua mãe Boiúna. Então, o jovem esposo mandou seus três fiéis amigos ir pegar a noite nas profundezas do rio. Boiúna entregou-lhes a noite dentro de um caroço de tucumã, como se fosse um presente para sua filha. Os três amigos estavam carregando a tucumã quando começaram a ouvir barulho de sapinhos e grilos que cantam à noite. Curiosos, resolveram abrir a tucumã para ver que barulho era aquele. Ao abri-la, a noite soltou-se e tomou conta de tudo. De repente, escureceu. A moça, em sua casa, percebeu o que os três amigos fizeram. Então, decidiu separar a noite do dia, para que esses não se misturassem. Pegou dois fios. Enrolou o primeiro, pintou-o de branco e disse: - Tu serás cujubin, e cantarás sempre que a manhã vier raiando. Dizendo isso, soltou o fio, que se transformou em pássaro e saiu voando. Depois, pegou o outro foi, enrolou-o, jogou as cinzas da fogueira nele e disse: - Tu serás coruja, e cantarás sempre que a noite chegar. Dizendo isso, soltou-o, e o pássaro saiu voando. Então, todos os pássaros cantaram a seu tempo e o dia passou a ter dois períodos: manhã e noite.

Autor: Desconhecido
País de Origem: Brasil
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A Lenda dos Sapatos Vermelhos


Era uma vez....

.... Uma menina pobre e sozinha, tão pobre que nem sapatos tinha. Ela morava em uma cabana, na floresta, e seu grande sonho era ter um par de sapatos vermelhos. Por isso, foi guardando todos os trapos vermelhos que encontrava, até que conseguiu fazer um par de sapatos
vermelhos de pano.

Ela adorava seus sapatos, usá-los fazia com que se sentisse feliz, mesmo tendo que passar os dias procurando frutas e nozes para comer, no bosque solitário onde vivia.

Um dia....

.... Ela estava andando por uma estrada, quando passou uma velha muito rica, em uma carruagem dourada. A velha parou ao lado da menina, e disse "vou leva-la para minha casa, e cria-la como minha filha". Pobre e sem esperanças, a menina aceitou o convite e foi morar na casa da velha senhora.

Ao chegar, os criados lhe deram banho, pentearam, cortaram o cabelo e vestiram com roupas novas e muito bonitas. Animada com as coisas novas, a menina nem se lembrou dos trapos que usava, nem dos seus adorados sapatinhos vermelhos. Quando, passados alguns meses, perguntou sobre eles aos criados, foi informada que a senhora havia jogado tudo no fogo, dizendo que as roupas eram imundas e os sapatos eram ridículos.

A menina ficou muito triste, porque adorava os seus sapatinhos vermelhos. Além disso, a vida nova tinha perdido todo o encanto. Ela era obrigada a ficar sentada, quietinha, o dia todo. Não podia comer com as mãos. Não podia correr ou pular, ou rolar na grama. E, quanto mais o tempo passava, mais falta ela sentia de seus lindos sapatinhos vermelhos. Mais importantes se tornavam.

O tempo passou...

...e chegou o dia de ser crismada – porque a velha senhora era muito religiosa e fazia questão de que a menina recebesse esse sacramento. Essa era uma grande ocasião para ela, que queria que a menina se apresentasse impecável na igreja. Costureiras foram chamadas para fazer o vestido. E a senhora levou a menina a um velho sapateiro aleijado, que era considerado muito bom, para fazer um par de sapatos novos para a ocasião especial.
Na vitrine do sapateiro havia um lindo par de sapatos vermelhos, do melhor couro. A menina escolheu os sapatos vermelhos, e a velha senhora, coitada, que enxergava tão mal que nem podia distinguir as cores, deixou que ela os levasse. O velho sapateiro, conivente, piscou para a menina e embrulhou os sapatos.

A entrada da menina na igreja, no dia seguinte, foi um escândalo. Todos olhavam para os sapatos vermelhos da menina. Como alguém podia se apresentar para o crisma com uns sapatos tão indecentes? A menina, entretanto, achava seus sapatos mais lindos do que qualquer coisa.

Quando chegou em casa, a tempestade estava armada. A velha senhora, que havia ouvido todos os comentários maldosos, proibiu a menina de usar novamente os tais sapatos."Nunca volte a usar os sapatos vermelhos"! ordenou, furiosa.

A menina, entretanto, estava fascinada pelos sapatos. No domingo seguinte, quando foi a missa de novo, colocou os sapatos – e, novamente, a velha senhora não percebeu de que se tratava, pois enxergava muito mal.

Na entrada do templo, havia um velho soldado ruivo, com o braço enfaixado. Ele se reclinou em frente à menina, dizendo "posso tirar o pó de seus lindos sapatos"? A menina, toda orgulhosa, deixou que ele o fizesse. Enquanto limpava os sapatos, ele disse para a menina "não se esqueça de ficar para o baile", e cantou uma musiquinha alegre.

Novamente, se repetiu a desaprovação de todos dentro da Igreja. A menina, fascinada com seus sapatos, nem ligava. Não escutava a missa, não via ninguém. Só olhava para seus lindos sapatos vermelhos.

Na saída, o velho soldado disse para a menina "que belas sapatilhas para dançar". E a menina, mesmo sem querer, começou a rodopiar ali mesmo.

Sem parar...

...ela continuou dançando, dando voltas, fazendo piruetas. Todos corriam atrás, assustados. O cocheiro da velha senhora tentou alcançá-la, mas foi em vão. Finalmente, um grupo de pessoas conseguiu segurá-la, e o cocheiro arrancou os sapatos vermelhos, com grande dificuldade, dos pés da menina.

Ao chegar em casa, a velha senhora guardou os sapatos no fundo do armário, e disse para a menina "agora me ouça, nunca mais use esses malditos sapatos vermelhos". A menina, entretanto, não conseguia parar de pensar nos sapatos. Muitas vezes abria o armário, e ficava espiando os seus lindos sapatinhos vermelhos.

Algum tempo depois a velha senhora adoeceu. A menina, que já tinha que se comportar e ficar quieta, agora tinha que andar na ponta dos pés pela casa, para não perturbar. Estava enjoada, entediada. E não resistiu.

Abriu o armário...

... E pôs nos pés os sapatos vermelhos. Imediatamente, começou a dançar, rodopiar, bailar. Era como se os sapatos a guiassem. Eles a levavam, dançando, para onde queriam. E assim ela saiu de casa, dançando, e atravessou a propriedade, dançando, e chegou na floresta, dançando.

Na entrada da floresta, estava o velho soldado que havia encontrado na porta da igreja no dia do crisma. Ele estava encostado em uma árvore, e a saudou, repetindo "puxa, que lindos sapatos para dançar"! E lá se foi a menina, dançando, atravessando campos e cidades. Exausta, tentava, vez por outra, arrancá-los. Mas não conseguia.

Dançando, dançando, dançando, foi-se a menina pelo mundo. Tentou entrar em uma igreja para se benzer, mas o sacristão disse-lhe que não poderia, pois seus sapatos eram malditos. Tentou se aproximar de alguém, mas a maioria não queria ajudá-la, com medo de sua maldição. E os poucos que o faziam não conseguiam arrancar os sapatos malditos dos seus pés.

Por fim, exausta, a menina procurou o carrasco de uma aldeia, e lhe implorou que cortasse os sapatos. O carrasco tentou, mas não conseguiu. Desesperada, a menina disse "então corte-me os pés, não posso viver dançando".

O carrasco, penalizado e implorando perdão a ela e a Deus, cortou seus pés, com lágrimas nos olhos. E os seus pés, com sapatinhos vermelhos e tudo, continuaram dançando, dançando, dançando, pelo mundo afora.

Agora, a menina era uma pobre aleijada...

... E teve que aprender a viver dessa maneira. Sem sapatos vermelhos, e trabalhando como criada.
Fonte; Feminino no Plural
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A ÁGUIA E A GALINHA
Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha, apanhar um pássaro para mantê-lo cativo, em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas, embora a águia fosse o rei /rainha de todos os pássaros.
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é galinha. É águia.
- De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia.
Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não, retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia, voar às alturas.
- Não, não, insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
- Já que você de fato é uma águia; já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!.
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
- Eu lhe disse. Ela virou uma simples galinha!
- Não, tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã!
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O Camponês falou:
- Eu lhe havida dito. Ela virou galinha!
- Não, respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia. Possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram-se bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
O Naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que você é uma águia; já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida, mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudesse encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico hau-hau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou.. até confundir-se com o azul do firmamento...”

AUTOR DESCONHECIDO
AGUARDE NOVAS LENDAS

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